dezembro 19, 2004

também eu, português

Era uma vez
um português
de Portugal.
O nome Luís
há-de
bastar
toda a nação
ouviu falar.
Estala a guerra
e Portugal
chama
Luís
para embarcar.
Na guerra andou
a guerrear
e perde um olho
por
Portugal.
Livre da morte
pôs-se a contar
o que sabia
de Portugal.
Dias
e dias
grande pensar
juntou Luís
a recordar.
Ficou um livro
ao
terminar.
muito importante
para estudar:
Ia num barco
ia no mar
e
a tormenta
vá d'estalar.
Mais do que a vida
há-de guardar
o
barco a pique
Luís a nadar.
Fora da água
um braço no ar
na mão o livro
há-de salvar.
Nada que nada
sempre
a nadar
livro perdido
no alto mar.
Mar ignorante
que queres roubar?
a
minha vida
ou este cantar?
A vida é minha
ta posso dar
mas este
livro
há-de ficar.
Estas palavras
hão-de durar
por minha
vida
quero jurar.
Tira-me as forças
podes matar
a minha alma
sabe
voar.
Sou português
de Portugal
depois de morto
não vou
mudar.
Sou português
de Portugal
acaba a vida
e sigo igual.
Meu
corpo é Terra
de Portugal
e morto é ilha
no alto mar.

portugueses
a navegar
por sobre as ondas
me hão-de achar.
A vida
morta
aqui a boiar
mas não o livro
se há-de molhar.
Estas
palavras
vão alegrar
a minha gente
de um só pensar.
À
nossa terra
irão parar
lá toda a gente
há-de gostar.

uma coisa
vão olvidar
o seu autor
aqui a nadar.
É fado
nosso
é nacional
não há portugueses
há Portugal.
Saudades
tenho
mil e sem par
saudade é vida
sem se lograr.
A minha vida
vai acabar
mas estes versos
hão-de gravar.
O livro é este
é este o canto
assim se pensa
em Portugal.
Depois de pronto
faltava dar
a minha vida
para o salvar.


Luís, O Poeta salava a nado o Poema, Almada Negreiros

também eu, português
lutei e nadei,
em mar bravio.
não salvei poema,
nem minha alma perdi
pois sei a quem a dei,
princesa por quem morri.
de bom grado repetia
salto para a morte,
do barco seguro
para o mar incerto,
a dor que choro hoje
foi o que de melhor tive.