dezembro 14, 2004

"deviam chover lágrimas quando o coração pesa demais"

e perguntei, e sonhei
que te ias,
prometeste não,
promessas vãs de quem
para além do castigo de me ser
tinha a solidão e morte
como companhia.

que sou eu, que apenas servi
os interesses de quem mais nada tinha
que sou eu, que quando outro algo chega
tão facilmente é esquecido

serei eu nada?
merecedor apenas
do desprezo
de quem a tudo dei

fui pano que limpou
lágrimas e sonhos pesados
fui lençol que aqueceu
o coração quebrado
fui lágrimas que encheram ego
fui escravo de quem não sabia
carregar sobre si o seu proprio peso.

fui, nem sei se fui
algo para além do que sou,
nada.

agora sou, peso meu e teu
lastro no barco que apanhei
onde outros navegam
sem de mim precisarem
levam-me por me serem
velhos companheiros de dor

mas sei o que sou,
sou o que nada tem
e tudo deu.

e assim vou sobre a vida indo
sem rumo nem estrela
assim vou sob o céu negro e carrancudo,
escondido neste velho sobretudo
escondendo os olhos salgados
e as faces molhadas pelas lágrimas
que apenas eu choro,
apeas eu sinto, pois fui eu que dei
tudo o que tinha,
fui eu que fiquei sozinho, enquanto o sonho partia.