dezembro 08, 2004

espelho

nada que és
no vazio repleto
de incertezas
de te saberes
incapaz de sentir.

negro és
por dentro nulo
desapaixonado vil
de quem até as estrelas
tiveram medo.

leve de corpo
que até a mais pequena brisa
te levanta e conduz
pesado de alma
que nem tu mesmo sabes
o quanto ela precisa de luz

fecha-la na dor
em suas vestes negras e pesadas
como tu,
torna-la no que ela sempre foi
o vazio de sonhos e pretensões
tornas-te no que sempre foste
altruísta sonhador
que sonha o que já teve e perdeu.

voltarás a ter, te dizem
do alto das suas almas cheias
de sorrisos seus e corpos pesados.
suas palavras te incomodam
retorcem-te a alma na dor
da ferida que permitiste
ao abrires o teu ser na esperança
de ter, o que de um sonho se tratava.

mas sonhos não se têm,
não da forma como te disseram
não como certezas que te deram,
sonhos são incertezas,
são nuvens de quereres,
bolinhas de sabão nas quais
te proteges da dor,
estendes a mão a quem amas,
escondes o vazio da tua alma
e enches o negro do teu peito
do cheiro que te leva
a sonhar uma outra vez.

e quando o sonho se desvanece
a bola de sabão se quebra
num esboço de lua,
voltas a ter o negro ver.