novembro 07, 2004

Maria do Rosário Pedreira, Nenhum nome depois

Cheguei tarde, e os que sabiam de mim
notaram que o meu corpo já não me
pertencia. E perguntaram. Porque ardia
a tua boca nos meus lábios mais do que
a fogueira do segredo, respondi-lhes

que o céu, afinal , era mesmo azul, e o
verão uma estação maior que o tempo,
e o tempo nada se o teu corpo estava
junto desse corpo que todos já sabiam
que não vinha comigo - e que Deus,
Deus fechava os olhos e existia. Riram

os que te tinham conhecido noutra noite
com outra pele vestida; os outros foram
para muito mais longe que o seu rosto
magoado dizer ao próprio ouvido que eu
mentia. Mas os que ainda queriam saber

de mim pediram-me que lhes contasse
quem eras, o teu nome. E eu mordi essa
boca vermelha que deixara contigo para
não ter de dizer que nem o perguntara.