março 22, 2006

kitty

levanto-me, numa tentativa de mais uma vez fugir do inevitável, de ti. Chego ao destino, aqueço o leite e sinto as pernas a tremer, hoje é hoje e por muito que fuja continuará a ser sempre dia 21. Um leve ronronar faz-me sorrir, lembro-me de como ele gostava de roer as sandálias consumidas pelos anos e pela vontade de sempre as usares.
De volta não resisto, preciso de ti, sempre precisei, mais ou menos lúcido, sei-o como sei que preciso de respirar. Ofuscas quem me procura assim como o sol coloca a lua em segudo plano. Estrela que brilha e alimenta, mesmo estando distante.

O ronronar volta, ele parece contente com o que faço. Senta-se em cima do monitor e olha-me de soslaio enquanto passa a lingua pela pata.

Procuro de alguma forma abrir-me de novo para o mundo, sorri. Dei por mim a cantarolar na escola hoje, sempre de sorriso na cara e pensei «voltaste...» continuo pelos corredores fora, que há tanto ocupam parte dos meus dias e os quais estou decidido a tornar na porta do futuro, que se quer mais leve. Decisões tomadas, alegria de viver, de ter renascido... pois quando a dor se tornava fisica, a morte era ali, aquele instante.

E o que fica no depois? Quantas vezes fiz esta pergunta envolto em lágrimas e dor. Raiva incontrolável apenas quebrada pelas memórias... mas tudo passa, tudo muda. Hoje the little kitten ainda se chama kika, mas tem as patinhas brancas e os olhos claros. É mimada e não tão curiosa como a que gostava de se deitar na tua barriga. Mas é linda e lembra-me de ti. Também eu choro quando penso naquela pequena menina deitada na minha, outrora, prinçusa.

Começo numa alegria que me consome... não consigo pensar... escrevo...vejo-te...sinto-te... assumo que queria levar este texto sem objectividade, deixar no ar ideias e vontades, subtilmente respirar o que sinto... mas a vontade já deixou de ser racional a partir do momento em que procurei por Ti, hoje. Quanto mais agora, inebriado pela sede de te tomar no meu abraço. Estendo a mão... é inevitável... quero tocar-te mesmo sabendo que não estás...

Apetece-me contar-te de mim, saber de ti, ser o que for, quando for, como for... mas será que o que quero é o que preciso? Baixei as defesas há muito, talvez depois de me sentir bem comigo mesmo. Agora que para além disso consigo ver o horizonte, continuo a querer-te. Apenas não sei como.

Estou a escrever há horas... as ideias não são racionalizadas, são pintadas aqui em palavras. Leio-me e acho que conseguiria muito melhor, sintacticamente falando... mas o que eu quero é deitar para fora... purgar-me de algo, nem sei bem o quê! Mania de colocar as coisas de forma pessoal! O que eu queria era colocar-me fora de mim mesmo e ver-me, analisar-me ao mais infimo detalhe. Saber-me!! Se me soubesse saberia como te quero... se te quero!

Malditas muralhas que outrora foram quebradas e agora reconstruidas mil vezes mais fortes. Tanto para impedir a entrada de alguém... como a saida do que restava de Ti.

E de novo personalizo, dizem-me para não o fazer... mas como não!? Eu sou eu... não posso fugir de mim mesmo, tenho de me aceitar a mim e ao que quero! Demência ocasional esta das últimas horas... mas boa! Fez-me abrir de novo as portas enquanto estavas de costas e olhar-te, sorridente. Sorri pelo teu sorriso, o Teu.

Se o arrependimento fosse um pequeno corte de papel há muito que tinha socumbido à dor de tantos... disse muito, que não devia. Infantilidades, arrogâncias, cobrei, apontei... estúpido miúdo que viu a felicidade a fugir e teve medo, de ficar só.

Estava a ver hoje um episódio de Dr. House... desde os últimos tempos é a série de eleição, revejo-me naquele médico arrogante e magoado com a vida, sem pingo de interesse por alguém. Mas que neste episódio revê a ex-mulher e o mundo vira do avesso. Ela sabe como falar com ele, sabe como o controlar e direccionar. Tão bem me lembras tu... a determinada cena o diálogo torna-se o reflexo de um sonho muitas vezes tido "I'm not over you" diz-lhe ela... assim me dizem os outros, "o que tu queres é que ela volte" ... será? Continuo a procurar alguém como tu, não sei se te procuro a Ti.

Só sei que te quero.


E agora... quero-a a ela... demais... tenho medo.

1 Fados:

Blogger Ludmila cantou...

Já falamos sobre isto... Tu mereces bem melhor que um fantasma... Mereces um caminho cheio de carinho e dádivas de felicidade... Mereces ter força para caminhar... E mereces ter alguém sempre presente para falar...
Vais surgir... ´
Adorei o teu texto...
Beijo

10:12 da tarde  

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