março 23, 2006

Às vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!


Alberto Caeiro - Às vezes

1 Fados:

Blogger Ludmila cantou...

A luz difusa que preenche os dias de felicidade é como o Sol... Esconde-se num lado do mundo que não vislumbramos... Mas eventualmente volta sempre a banhar-nos as faces...
Beijo

10:16 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home