janeiro 06, 2008

A seta apaixonou-se pelo vento
quis deixar-se levar pela sua força.
Voamos os dois na mesma direcção
mas o vento só vai para onde lhe apetece.

A seta apaixonou-se pelo vento
quis deixar-se levar pelo seu talento.
E entramos os dois numa combinação
que tendia para o infinito inequivocamente.

Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Não vais ter...
Não vais ter...
...tanto encanto.

E o vento apaixonou-se pela seta
quis deixar-se acompanhar pela coisa concreta,
surgia como justificação,
para a materialidade de um traço no céu

E o vento apaixonou-se pela seta,
quis fazer com ela a volta completa.
Mas a seta estava farta de dispersão,
voou para Barcelona e deixou solidão.

Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Amanha não vais ter tanto encanto
Não vais ter...
Não vais ter...
...tanto encanto.
...tanto encanto.

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e eu... serei seta ou vento?

janeiro 04, 2008

Será possível gostar tanto de alguém que deixamos de ser nós mesmos?
Um dia disseram-me que havia muitos tipos de amor, que existiam muitas formas de amar e que eu iria ser feliz. Mas eu não sei lidar com os sentimentos, não me sei barrar a eles. Sou assim, impulsivo e vivo sempre no extremo do que posso ter.
Quando voltei a gostar, todo o meu corpo, habituado ao recentemente adquirido controlo das emoções, se ressentiu. Toda a minha capacidade de me controlar, de entender, de pensar foi ultrapassada por sentimentos, dúvidas e inconsistências imaginárias.
No meio disto tudo, quem me conhece dizia-me “epa… isso nem parece teu…” e não era, não era eu… era tudo o que eu não compreendia que me controlava.

Amei demais, até me sentir cortar por esse amor. Até sentir que os meus ossos, o meu sangue, o meu respirar eram parte desse amor… e nesse amor, eu era eu mesmo. As proporções que tudo isto tomou é que fugiram do controlo de ambos, fomos amando e tornando o outro parte de nós e sem saber lidar com isso, matamo-nos.
Seguindo cada um o seu caminho. Crescendo cada um no seu rumo, mesmo que de formas paralelas, eis que chego a uma porta que me decidi a abrir. De novo o sentir, de novo o querer… não soube, não consegui, não me permiti ser.

E assim, voltamos à pergunta inicial, será que é possível gostar tanto de alguém que deixamos de ser nós mesmos? Não pelo facto de não conseguir estar sem a pessoa, ou de não ser sem a pessoa… mas sim pelo facto que quando se está com quem que nos provoca todos estes sentimentos, não conseguimos abrir a nossa porta, deixando que um estranho ser tome conta de nós e nos faça agir e reagir de forma incoerente com o que somos.

Queria conseguir ser, ao teu lado. Mas não consigo…
E a tua ausência… magoa-me.