e talvez
porque eu penso
talvez seja por isso
que eu pago
os pecados que não cometi
talvez seja por isso que fico
com as dores que não me pertencem
talvez seja por pensar
que tenho tantos talvez
sei que o que sei nada é
e a única coisa que julguei saber
se esfumou no ar
quebrou-se em mil pecados
e partiu ao luar.
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
Alberto Caeiro
E assim, penso e não tenho nada.